No período de férias, quando as crianças estão mais presentes em casa, a incidência de acidentes domésticos tende a aumentar. Um levantamento da Federação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) elencou os principais motivos que levaram crianças, de 0 a 11 anos, aos atendimentos de urgência no hospital João XXIII, no Centro de Belo Horizonte, no período de 2019 a 2022.
Segundo levantamento, as quedas estão no topo da lista de acidentes. E foi justamente uma queda, no ano passado, que levou o Noah, à época com 4 anos, filho da fisioterapeuta Luciana Torres, ao hospital. “Ele estava sob cuidados da avó, brincando com os primos, enquanto eu estava trabalhando. Quando cheguei em casa, fui lanchar, e reparei que eles (as crianças) estavam brincando com um tecido, simulando um fantasma. E eu alertei ‘cuidado, vocês vão acabar se machucando’ e não deu outra. Ele caiu da própria altura, bateu o queixo no chão e precisou levar três pontos”, relata a mãe.
Apenas no passado, foram 460 ocorrências semelhantes a do Noah, seguidas de queda de escadas, com 235 casos, 151 queimaduras por líquido, 113 casos de atropelamentos, 65 registros de intoxicação por medicamentos, 28 queimaduras por fogo e sete afogamentos.
Evitar acidentes é dever todos
A pediatra Amanda Couto acredita que os cuidados com as crianças, independente da idade, é uma responsabilidade de todos os adultos. “É um papel da sociedade, da aldeia cuidar e vigiar. Cabe aos familiares, escola e qualquer pessoa que esteja em um raio vendo uma criança em risco, é nosso dever cuidar. Seria ideal que as pessoas tivessem cursos ou mínima orientação de primeiros-socorros, pois nunca sabemos quando vamos ter que lidar com uma situação de emergencia”, afirma.
Segundo a especialista, a curiosidade é inerente aos seres humanos, e cabe aos adultos responsáveis adaptar os ambientes para torná-los seguros aos pequenos.
“Acidentes acontecem principalmente porque a gente não prepara a casa para as crianças, então, eu julgo que a gente deva preparar a casa para que as crianças façam o que fazem de melhor, que é explorar. Então, elas vão ter o instinto de explorar, de pegar tudo, pôr na boca… Faz parte do desenvolvimento testar hipóteses, querer interagir com o mundo, então, se a gente não prepara o ambiente, acidentes vão acontecer e por isso, quando eles acontecem, são de total responsabilidade dos adultos”, diz.
A médica listou uma série de medidas que adultos responsáveis por crianças podem (e devem) adotar para minimizar os riscos de acidentes com os pequenos.
- Cobrir tomadas com proteção adequada;
- Proteger pilhas e baterias de objetos com fita para evitar que sejam engolidas;
- Não deixar objetos pequenos, cortantes, perfurantes, etc, ao alcance de crianças;
- Não deixar produtos químicos, medicamentos, inflamáveis ao alcance de crianças;
- Nunca deixar crianças pequenas sozinhas no banho ou qualquer recipientes com água (o afogamento pode ocorrer em segundos!);
- Instalar grades de pelo menos 1,20 m em toda borda de piscinas;
- Ter supervisão exclusiva de adultos em ambientes de piscina (não pode dividir a atenção com celulares, livros, etc);
- Usar boias aquáticas específicas para o tamanho da criança quando os pequenos forem nadar;
- Proibir pulos e saltos em piscinas, lagos, rios, cachoeiras, etc.
Ainda de acordo com a especialista, sempre é tempo de dialogar e explicar às crianças sobre os riscos e falar sobre a prevenção de acidentes.
“Com as crianças pequenas e bebês, use a linguagem corporal, por exemplo, quando ela demonstrar interesse em algo perigoso, como uma tomada, proteja o local com adaptadores de plástico e simule um acidente, coloque a mão e fale ‘ai’, ‘aqui dói’, para que a criança, aos poucos, entenda que aquilo ali poderá feri-la. À medida que a criança vai crescendo, use palavras diretas e claras, explique o risco”, orienta.
Peça ajuda!
Outra dica dada pela médica é pedir ajuda aos órgãos de segurança, como SAMU, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. “Avalie os acidentes e a urgência de prestar socorro à criança acidentada. Chame ajude o mais rápido possível, isso pode salvar vidas”, pontua.
O Tempo